Fantasia Sexual

Uma das ilustrações de Édouard-Henri Avril para De Figuris Veneris.
Ele retrata um macho se masturbando enquanto fantasia sexualmente.

 "As fantasias sexuais nascem, assim como os sonhos, nascem da história pessoal de cada pessoa, da vivência, da experiência sexual e de outras formas, que ninguém deve condenar, porque é algo natural que faz parte da vida do ser humano." (Goldenson & Anderson, 1989, p. 107)
 
Os desejos sexuais que têm origem no imaginário são chamados de Fantasia Sexual ou Fantasia Erótica – aqui chamaremos simplesmente de Fantasia. De acordo com Carl Jung, essas fantasias podem ser interpretadas como expressões do inconsciente coletivo e dos arquétipos universais. Elas não apenas refletem experiências de vida, mas também representam conexões com elementos psicológicos compartilhados pela humanidade, oferecendo pistas sobre nossos sentimentos mais profundos e nossa busca por equilíbrio interno. Assim como os sonhos, não podemos escolher o que desperta nossa Fantasia; procuramos apenas compreender para decidir o que faremos. Basicamente, a Fantasia é uma forma de compensação psicológica que busca satisfazer nossos anseios provenientes do subconsciente. Pressupondo então que não temos controle sobre o que sonhamos e sentimos, é possível considerar, à luz da teoria de Carl Jung, que as fantasias são como os sonhos: manifestações do inconsciente que trazem à tona aspectos profundos da psique. Não cabe julgá-las como boas ou ruins, mas explorá-las como ferramentas para autocompreensão e integração psicológica. Contudo, se você se sente impelido a colocá-la em prática, dependendo das características e consequências que ela pode causar em sua vida ou na vida de outras pessoas, então a Fantasia pode ser classificada como desvio (distorção ou torção) do comportamento sexual normativo, ou até mesmo uma patologia sexual.

O ponto principal a ser observado é se os desejos ou práticas estão causando sofrimento a você ou a outras pessoas. Porém, não confunda um sofrimento aparente com um sofrimento legítimo. Por exemplo, o fato de um familiar ou amigo "sofrer" por uma pessoa ser homossexual não é a mesma coisa que uma criança SOFRER por ser abusada sexualmente por um pedófilo. Com base nesse exemplo, poderíamos dizer que a homossexualidade é apenas um desvio do comportamento sexual normativo (tradicional e conservador), enquanto a pedofilia é uma patologia sexual, ou seja, além de ser uma doença mental, também é um crime. Todas as pessoas devem ter liberdade para serem o que são, independentemente do desconforto que isso possa causar a outras pessoas. Essa aceitação e expressão autêntica, ao se conectar com o conceito junguiano de individuação, encontra um paralelo interessante no contexto de dinâmicas consensuais, como no BDSM. Nessas interações, o indivíduo pode explorar sua sexualidade de maneira profunda e genuína, integrando aspectos do "self" e trilhando um caminho de realização plena e autêntica. Mas, daí vem aquela máxima: "A sua liberdade termina quando começa a liberdade do outro". Porém, nem sempre é tão simples distinguir uma coisa da outra, pois existem diversos fatores que podem influenciar na maneira como uma pessoa se sente diante de seus desejos: características biológicas, contexto social/político/religioso, família, histórico de vida, etc.

Por isso, a ideia central do assunto que estamos apresentando é clara: se você enfrenta um sofrimento legítimo ou causa sofrimento a outras pessoas, procure a orientação de um psicólogo. Sob uma perspectiva junguiana, a análise dos elementos simbólicos presentes nas fantasias permite desvendar suas origens e aliviar conflitos internos, enquanto promove uma autocompreensão mais profunda. Contudo, se os seus desejos lhe trazem bem-estar e não causam sofrimento legítimo a ninguém, celebre quem você é sem culpa ou constrangimento. Abrace suas fantasias como partes intrínsecas do seu ser e siga em frente, com orgulho e autenticidade. Siga em frente e seja feliz!
 

 

Conexão com Carl Jung

Carl Jung, pioneiro da psicologia analítica, via o imaginário humano – incluindo sonhos e fantasias – como intrinsecamente conectado ao inconsciente coletivo, um repositório de experiências e arquétipos universais compartilhados por toda a humanidade. Segundo ele, fantasias sexuais podem ser entendidas como expressões do "self" em busca de equilíbrio psíquico e realização. Jung nos encorajava a não reprimir essas manifestações, mas a explorá-las conscientemente para descobrir nossos desejos mais profundos e as motivações por trás deles.

Além disso, Jung identificava a sexualidade como um elemento vital na jornada de individuação – o processo de unir os aspectos conscientes e inconscientes do "self" para atingir autenticidade e plenitude. Nesse sentido, fantasias funcionam como um "diálogo interno" revelador, trazendo à luz aspectos ocultos da psique. Ao acolher essas mensagens simbólicas, o indivíduo pode resolver conflitos internos e trilhar um caminho rumo à harmonia pessoal e à integração emocional.

Portanto, conectar as ideias de Jung às fantasias sexuais nos ajuda a entender que esses desejos não são meros caprichos, mas reflexos de dinâmicas psicológicas profundas. Ao trazer consciência para essas experiências, podemos não apenas compreendê-las melhor, mas também encontrar um caminho para o autoconhecimento e a aceitação.
 
 

Estudos Relevantes

  • Leitenberg, H., & Henning, K. (1995). Fantasia sexual. Psychological Bulletin, 117(3), 469-496. Este estudo publicado no Psychological Bulletin investiga a natureza, características e prevalência das fantasias sexuais em diferentes grupos populacionais. Os resultados revelam que as fantasias sexuais são comuns em homens e mulheres, variando em temas e conteúdos. Essas descobertas desafiam estigmas e tabus, enfatizando a normalidade e a importância da comunicação aberta sobre fantasias sexuais. O estudo contribui para uma compreensão mais ampla da sexualidade humana e fornece insights valiosos para profissionais de saúde e terapeutas sexuais.
  • Breslow, N., Evans, L., & Langley, J. (1985). Sobre a prevalência e o papel das mulheres na subcultura sadomasoquista: Relato de um estudo empírico. Archives of Sexual Behavior, 14(4), 303-317. Este estudo exploratório investigou a prevalência e os papéis das mulheres na subcultura sadomasoquista. Os resultados revelaram insights sobre a participação feminina nessa subcultura, incluindo suas fantasias e comportamentos sexuais. Este estudo é referenciado para compreender a dinâmica e os papéis de gênero na subcultura sadomasoquista.
  • Byers, E. S., & Demmons, S. (2010). Fantasia sexual e autoestima: Uma exploração quantitativa. The Journal of Sex Research, 47(4), 384-398.O estudo "Fantasia Sexual e Autoestima: Uma Exploração Quantitativa" revelou uma associação entre fantasias sexuais e autoestima, destacando a importância dessas fantasias na vida sexual e emocional dos indivíduos. As descobertas sugerem que fantasias sexuais positivas e variadas podem estar relacionadas a uma maior autoestima. Essas informações são relevantes para profissionais de saúde, terapeutas sexuais e indivíduos que desejam compreender melhor a influência das fantasias sexuais no bem-estar psicológico e emocional.
  • Sagarin, B. J., Cutler, B., Cutler, N., Lawler-Sagarin, K. A., & Matuszewich, L. (2009). Mudanças hormonais e vínculo de casais em atividade sadomasoquista consensual. Archives of Sexual Behavior, 38(2), 186-200. O estudo "Mudanças Hormonais e Vínculo de Casais em Atividade Sadomasoquista Consensual" oferece insights sobre as mudanças hormonais e o vínculo emocional de casais envolvidos nessas práticas. Os resultados ressaltam a importância da comunicação, do consentimento e da compreensão das dinâmicas emocionais e fisiológicas nas atividades sadomasoquistas consensuais. Essas informações são relevantes para profissionais de saúde e terapeutas sexuais, além de casais interessados em explorar essa forma de expressão sexual de maneira saudável e consensual.

Comentários

  1. Muito inteligente e verdadeiro é muito importante fazer uqúe gostamos. É muito prazeroso expor nossa vontade .

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